quarta-feira, 24 de março de 2010
Sodoma
sábado, 13 de março de 2010
Homenagem.
Ela estava lendo, aparentemente inofensiva com o livro sobre a carteira. Suas mãos folheavam as páginas como se elas a ofendessem; o vento se deliciava ao encontrar seus cabelos lisos que se cacheavam ao virar de seu pescoço, limitando-os e espalhando o seu perfume cítrico. Seus olhos esverdeados criminosamente desenhados desenhavam página por página seu futuro, escrevendo assim outra história mentalmente com a malícia de suas mãos.
As unhas compridas que ela possuía pareciam arranhar o papel; seus dentes pareciam fazer seus lábios sangrar enquanto sua língua passeava silenciosa pela boca. Suas pernas ora separadas, ora juntas formavam um quadro cheio de mensagens subliminares.
Ela era o pecado! Ela era o pecado que me atraía para um poço de sangue; ela era a ponte para a inquisição que carregava nos olhos.
Suas bochechas levemente rosadas faziam com que suas palavras firmes se transformassem em canção de ninar. Seus lábios vermelhos deveriam ser proibidos e arrancados, mas nem assim seus sinais de beleza espalhados estrategicamente pelo rosto pareceriam sem valor.
Seus cabelos novamente iam para trás, espalhando sua cor castanha; fazendo-a deixar de sentir o que lia para prestar atenção no que pensava; no que tramava. Não era bom nem mau; era apenas digno de desejo de lê-lo. Eu queria saber o porquê da minha atração com aquela menina com pensamentos indecifráveis.
Fora quando lia incessantemente, nada falava em voz alta e quase sempre sabia a resposta das coisas. Ela queria ser um tesouro; ela queria que se acostumassem com sua ausência de argumentos para que fosse ouvida quando optasse pela oratória.
Seus monólogos interiores pareciam a assustar, seus olhos gritavam em glamour. Seus olhos fantasiavam, reviravam... Às vezes pareciam apavorados, às vezes satisfeitos.
Escutei-a uma vez falando algumas palavras em Inglês, em Francês... Eu a admirava, eu a desejava com toda e qualquer força que existia dentro de mim, mas essa força se tornava fraca perto daquele olhar.
Eu me sentia perfeitamente atraída a ela e ela a mim, porque ela era eu em minha mais explícita forma: éramos a mesma pessoa. Se aqui "morrêssemos" e "entrássemos" em estado de putrefação; nasceria uma linda flor de Narciso.
P.S.: Texto em homenagem narcisista à mim - é claro.