sábado, 21 de novembro de 2009

Quente e fria.

Não, o processo de fotossíntese não ocorre comigo. Eu não preciso no sol a me escaldar e eu não sou presa fisicamente em um lugar só.
Cada vez mais, sinto a teia de sua voz que em minha mente ecoa incessantemente. Interessante, eu falo das vozes que escuto, elas me atormentam mesmo sendo mudas, me incomodam por não ter timbre definido, me perseguem por eu ser fraca... Ou resistente.


Me peguei esquecendo que eu tinha desistido. Peguei-me começando do zero; com as mesmas esperanças e a mesma bondade. Altruísmo! Talvez eu queira apenas o bem alheio. Eu não deveria estar pensando tanto, mas por que comigo é tão diferente e agudo?
Minhas ideias estão mudando, mudando apenas o percurso a qual andam, caminham, chutando as pedras e os acúleos que atrapalham tripudiando da minha falta de destreza. Mesmo com todos os obstáculos, ainda sigo sua voz que me atrai violentamente, fazendo-me ignorar todo o resto.
A minha história escrevi e por escolha o protagonista não sabe que papel atua. É como se o motorista não soubesse que está dirigindo e os passageiros extasiados gritassem de prazer a cada vez que o veículo se locomovesse mesmo se percorresse apenas centímetros.
Até agora, tudo parece bom e bonito. Mas, e quando eu começar a questionar os erros? E até os acertos se transformarem em erros?


Somos todos seres humanos até que provem o contrário...
Estou me admirando; encolhida; encostada na cabeceira da cama; com os olhos quase fechando. Poucas palavras poderiam me despertar... Despertar-me desse pesadelo que as vezes tem ilusões de sonhos. Despertar-me do desconhecimento sobre as alucinações que eu teria se eu pudesse provar da doce pimenta que faz meu coração bater inocentemente. Inocente é o que faz meu sangue bombear não o que bombeia meu sangue. Inocente não é o que eu quero ouvir nem ver, pois as vertentes puras roubam quem eu realmente sou.
Sou construída de veneno, feita para mudar de opinião. Meus olhos agora experimentam a visão que minha mente transmite. Vejo você lendo o que eu escrevi não tendo a ideia de que meus olhos reviram e minha boca umedece, pelo simples fato de você não saber disso.


Não falo sobre pecado, sim sobre a decência que as pessoas deveriam ter de sentir seus sentimentos acentuados. Quente, quente, frio, frio! O que você prefere? Agir ou pensar? Ignorância ou conhecimento? Instinto ou autodomínio? Quente é isso; agir por impulso, sem analisar, sem dar ao menos chances de o gelo arrogante boicotar sua esperança. Quente é não pensar em conseqüências medíocres, quente é o querer possuir algo que não se tem, quente é a pureza de sentimentos nítidos que são sentidos até incendiar a carne e encontrar refúgio nas labaredas e queimando ir até escrever meu nome com cinzas.


O que me sobraria, seria o gelo sóbrio a gritar e se revirar, assistindo minha carne contorcer, implorando por voltar o tempo e ter a chance de desistir de verdade ao invés de apenas tentar enganar o destino.
Foi preciso a desistência para notar que minha carne derreteria. Mas, não seria bom ter minha carne queimando e por instantes pensar que não preciso de mais nada? O que é bom? Pelo menos para mim, o bom é sentir o gelo ou o fogo, cada um de uma vez, intensamente. Para que eu não me arrependa de ter queimado e provado do delicioso gosto do perigo, que me faria rir lembrando que eu cheguei a pensar que tinha uma caixa de gelo no lugar do coração.


Acho que isso foi o recomeço, o renascimento.


O derretimento da minha caixa de gelo é infinito e o que toma conta agora são apenas faíscas que futuramente virarão fagulhas e farão meu eu.
Fico feliz por ser gelo, fico feliz por ser fogo, mas acima de tudo fico feliz por ser humana e o suficiente para sentir cada um de uma vez só, como o sangue que do meu peito jorraria se uma facada levasse ou como meus olhos têm o poder de revirar com simples palavras que não são ditas por ninguém.


Agora sou quente, porque mesmo eu sendo fria, os meus sentimentos eu sinto ardentes, assim como as gotas de água de minha caixa de gelo caem... Mas, pelos olhos.

2 comentários:

  1. 'Agora sou quente, porque mesmo eu sendo fria, os meus sentimentos eu sinto ardentes, assim como as gotas de água de minha caixa de gelo caem... Mas, pelos olhos.'

    Fantástico! *-*

    É de sua própria autoria ?

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  2. Sim, é uma espécie de "diário" não tão diário. :D

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